2006-12-27
2006-12-20
Nas malhas da formação
Encontro a história para a ilustração do Major Tom;
É a minha primeira publicação. Também é a inicial para o Major. Surge no âmbito de um convite para a revista da Reapn. Penso assim…
(…) Parece haver alguma regularidade entre altos níveis motivacionais e maior facilidade de formulação de planos e projectos. Penso que é a este nível que se pode colocar a seguinte hipótese: a frequência num dispositivo de formação é indutora, salvo melhor opinião, de altos níveis motivacionais, podendo contribuir para a possibilidade de inserção profissional, uma vez que são aprimoradas e desenvolvidas competências pessoais, sociais e profissionais que podem facilitar o processo de ingresso no mercado de trabalho. Num mercado globalizado e, por isso, cada vez mais exigente, os níveis de qualificação escolar e profissional são garantia de autonomia e liberdade.
Para a produção destes efeitos é, certamente, necessário que os indivíduos que frequentaram um dispositivo de educação e/ou formação, o tenham considerado como um processo significativo: “é sempre a pessoa que avalia a pertinência e a oportunidade da aprendizagem e decide se acciona ou não os mecanismos necessários para a aquisição de saberes” (Cavaco, 2002:113).
Do meu ponto de vista, a formação não pode ser vista como a panaceia para todos os problemas e dificuldades que tolhem Portugal. Convém que ela seja uma medida, entre outras, de promoção de igualdades e da equidade social.
Acredito, contudo, que “aquilo em que cada um se torna é atravessado pela presença de todos aqueles de que se recorda e que o processo de formação tem semelhanças com um processo de socialização” (Dominicé, 1988, Cit in Cavaco, 2002:93). Acredito também que os dispositivos de formação podem imputar vivências muito significativas e acredito que os adultos que o frequentam desfazem a malha das suas representações para tricotar uma nova malha de leitura do mundo.
2006-12-07
Apertos
Este trilho excedeu, conjuntamente, em mim sentimentos inquietantes de sorrisos: a partilha do programa dos cães danados, o mar que vejo numa nesga da auto – estrada todos os dias quando vou para o trabalho, o desafio para a escrita do artigo, o jantar na Flor dos Congregados, a descoberta dos seis homens e três mulheres com quem partilho um gabinete em que chove, o fim de semana que se aproxima com as amigas de infância, o chá e abraços ao deitar e o tango. Vicio-me no deslizar de sapatos, na relação intimista de quem se descobre no chão.
2006-11-20
Chuva no Palácio
2006-11-05
S. Jacinto
2006-10-28
Na impossibilidade de adormecer…
2006-10-21
Privilégios
2006-10-13
Outras Verdades
Actualmente, este confronto com novas concepções é, sempre, sentido como significativo. Por vezes, o grau de significância é acompanhado de uma sensação dolorosa de reajustamento, de quebra. Por vezes, é acompanhado de carícias intelectuais.
Uma verdade inconveniente, de Davis Guggennheim, volta a situar-me nesse fio subtil de confronto com uma dolorosa conjectura. Mas desta vez, não pressinto que dela advenha uma surpresa simpática. Gostaria de voltar a acreditar que o fim do mundo é só o final da estrada, o longínquo, a falta de telefone e muitas e maravilhosas oliveiras
2006-10-05
Letargia
2006-10-01
Sensações de domingo
Nos últimos silêncios de domingo elaboro balanços e balancetes da semana. Da minha desnorteada viagem semanal em vestir e despir papéis. Como se abrisse e fechasse gavetas. Em cada uma delas há indumentária suficiente para mesclar tons de discurso e aguarelas de sentimentos. Na maioria das vezes há meias horas entre personagens a interpretar. Para alinhavar e não descoser as narrativas. Para me livrar das tantas frases e palavras que se arrumam, que se colam. Para arejar. Para poder ficar de novo disponível.
Nos últimos silêncios de domingo velo um sono profundo e silencioso. Descubro o anoitecer, acendo velas, queimo incenso e arrasto demoradamente, em tom de despedida, as janelas. Ainda sinto o cheiro a cevada, ainda me ocorre pensar em sair.
Nestes últimos instantes receio o tempo passar. Reclamo da inevitabilidade, reclamo com a agenda que me faz sinais demorados, da impressora que dá indicações de iniciar uma longa jornada de impressões.
Atrevida, desligo tudo. E, permito-me arrumar, em lugar desconhecido, a invenção das sensações de domingo.
2006-09-27
2006-09-23
Canto e lamentação na cidade ocupada
Com ternura, insone, canto.
Com simples flores de angústias,
canto.
Em termos de revolta, crise, sonho,
ergo, à mesa do café vazio e enorme,
meu sonho de viagem sem regresso.
Para enganar a solidão, o medo,
digo palavras, música, esperança.
Canto porque estou vivo e amarrado
à condição de ser fiel e agreste.
Porque em vão nos destroem a memória
com máquinas, rodízios, honorários.
(…)
Canto para saber que vale a pena
ter voz, músculos, nervos, coração.
À mesa do café, nas ruas, canto.
Nos jardins, nos estádios, sofro e canto.
No quarto abandonado, sonho e canto.
Nos pequenos cinemas, rio e canto.
Entre teus braços doces, choro e canto.
(Daniel Filipe, in A invenção do amor e outros poemas)
2006-09-21
Esta quinta...
Pernas ainda doridas de exercícios longos, persistentes e com caneleiras pesadas. Pés maçados dos sapatos que não servem para milongas. Caminhei rápido. Chovia, estava atrasada. A rotunda em alvoroço. Os semáforos que não abrem e as dez horas quase a chegar. Os cartazes de actividade cultural colados nos murais. Paro vezes sem conta a admirar, a ver as novidades. Reclamo do meu atraso, acelero novamente. Não me permito perder a aula de Balance. Lá dentro há velas pequenas e luminosas. Há silêncio e relaxamento. Estico-me. Dói-me o corpo. Dois minutos só para vocês, diz a Professora. E termina desafiando para nova actividade. Quando saio quase provoco um pequeno acidente. Quase que contribuo para uma queda. Há carros e chuva de novo. Voltei à rua e à dinâmica acelerada de um dia de semana.
2006-09-17
Na escrita...
2006-09-13
Talvez...
Talvez por isso não tenha estado a olhar atentamente às coisas insignificantes. Talvez por isso os meus sonhos só se cruzem com papéis e livros e escrita obrigatória.
Talvez por isso acorde ansiosa. Talvez por isso me persiga a sensação de não conseguir estar, satisfatoriamente, com quem gosto.
2006-09-08
Resisto à chegada do Outono
2006-09-07
Salta ao Muro
Essa escada já não existe, mas eu tenho sempre vontade de saltar o muro para a casa da Família Moreira.
2006-09-05
2006-09-04
Vila Pouca de Aguiar
Integrado na sub-região do Alto Tâmega, o Concelho de Vila Pouca de Aguiar situa-se a norte do Distrito de Vila Real, entre as serras do Alvão e da Padrela. Durante o tempo em que vivi neste concelho confrontei-me diariamente com o peso da interioridade. Recordo-me da ansiedade com que recebia a Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian, das viagens intermináveis até ao Porto, do frio na Escola Primária, da falta de cinema, de teatro, … Ganhei outras coisas, é certo, que só a interioridade pode oferecer: liberdade para explorar o espaço que me rodeava.
Este fim – de – semana visitei-o. Acolhida em amizades sólidas, construídas nessa exploração do espaço, construídas no tempo e no acompanhamento dos momentos significativos, construídas devagar e sem pressa. E acolhida nessa rede, re –descrubo um novo concelho. Um concelho que tenta mostrar o património local e fazer dele uma garantia de sobrevivência. Algumas das principais alterações estão relacionadas com um investimento na rede comercial: clara aposta na comercialização de produtos da região como o granito, o mel, o cabrito, as cebolas e a castanha. Anualmente, realizam-se feiras que promovem estes produtos, e que trazem pessoas à região. Vila Pouca de Aguiar pode, agora, ser designada como a Capital do granito. O Parque Termal das Pedras Salgadas vai ser alvo de uma profunda remodelação. Há património arquitectónico e arqueológico classificado. Verifica-se, também, que proliferam Associações: de fotografia, de Caça e Pesca, de BTT, de cantares tradicionais. E há uma Casa da Cultura, antigo edifício da CP, que acolhe todas as Associações. Este sábado desafiaram-me para testar um dos percursos da Rede Municipal de Percursos de Vila Pouca de Aguiar que inclui 14 percursos pedestres de pequena rota (PR), um percurso pedestre de grande rota (GR), um percurso equestre (PE) e um percurso cicloturístico (PC), completando a mais extensa rede de trilhos sinalizados a nível nacional. À noite assisti a um concerto medieval no Castelo de Aguiar. Confesso que antes de adormecer não pude deixar de pensar, agora sob o olhar de Adulta, que deve ser bom morar numa terra assim.
2006-09-01
O Carteiro
2006-08-29
On the road...
Viajamos felizes. Na rádio, sempre, música tradicional irlandesa. Perdemos a conta do número de Kms percorridos nas estradas sinuosas, estreitas, vertiginosas e decoradas com mantos de verde, de cabras e de vacas. Em todo o país há aproximadamente 70 Kms de auto - estrada. Mas as estradas nacionais parecem cumprir o propósito de nos obrigar a viajar devagar e a olhar atentamente esta Irlanda. Cruzamo-nos com homens e mulheres simpáticos e amistosos rodeados de filhos. Bebés de grandes olhos azuis e de sardas elegantes a pintalgar sorrisos abertos. Descubro uma Irlanda rural. Assumida e orgulhosa. O dinheiro, proveniente de Fundos Comunitários, foi aplicado num investimento sério na tradição rural, na reformulação e ampliação de grandes áreas latifundiárias. As habitações foram, também, presenteadas com reconstruções e por todo o lado, em todas as colinas, há um Bed & Breakfast que acolhe, que recebe bem. Parece haver, sempre, uma mensagem que apela ao visitante a vir conhecer o País. Uma das principais companhias de aviação de Low – Coast, a Ryanair, encarrega-se de trazer turistas. Os castelos em ruínas, as ovelhas, os campos a perder de vista, o imaginário das lendas celtas e o acolhimento do povo com um pint de Guiness na mão encarregam-se de nos embebedar de desejos de regresso.
(fotografia do Matvei)
2006-08-18
Quem Morre?
Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
quem não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os “is”
em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos
dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permita pelo menos uma vez na vida fugir de conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se
da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda
(Procuro evitar esta morte suave! Partimos amanhã para a Irlanda. Na mochila levo livros e na boca músicas gravadas em suporte emocional.)
2006-08-17
E o Dr disse...
2006-08-16
Antes de partir para a Irlanda…
2006-08-14
Como turista no Porto
Vesti vestido, calcei sandálias e caminhamos longamente. Recebemos uma vista especial, de uma amiga especial, para esta caminhada. Subimos a Torre dos Clérigos, espreitamos a Livraria Lello, descemos à ribeira pelas ruelas de S. Bento da Vitória, bebemos refresco na Praça do Cubo. Pela primeira vez, subi no Funicular dos Guindais e assomamos rapidamente à Praça da Batalha. Visitamos a Igreja de S. Francisco, fomos Douro acima e passamos mesmo debaixo das pontes, das seis pontes que ligam o Porto e Vila Nova de Gaia, passeamos nos Jardins de Serralves e experimentamos fotografias na Casa da Música. O número de turistas é encantador. Ouvem-se línguas diferentes, as ruas adoptam densidade de cidade grande, os empregados de mesa da ribeira reclamam dos pedidos, os turistas trocam de mesa na esperança de serem atendidos, melhor atendidos, também. Mas esta é uma mera ilusão. Parece que a Ribeira sobrevive. Presta pouca atenção a quem os visita, a quem alimenta a continuação deste espaço. Não cuida, não acolhe. Os putos saltam da ponte D. Luiz e o povo pára para ver, reclamam celeridade e espectáculo no salto. Os turistas fotografam.
A noite, e ligeiramente fora do circuito turístico, foi muito agradável. O jantar, também com a presença da amiga mic`s, foi acolhedor e risonho. Pela noite dentro dois lugares de eleição, eleição subjectiva obviamente. O meu Mercedes é melhor que o teu e o Blá, Blá. Gosto da sensação de estar num sítio em que sinto que é, também, meu. E por isso, sentimo-nos à vontade para tirar os sapatos e dançarmos descalços. No Blá, Blá criou-se, então, um monte de sapatos e à volta dele dançamos como se este fosse uma fogueira de S. João.
2006-08-11
Tercigirls
Este ano, e ainda que não estejamos já no final dele, tem sido deveras estranho. Repleto de acontecimentos pouco satisfatórios e que apelou a um sentido feroz para não desarmar as barreiras da resistência. Talvez a principal e a mais dolorosa mudança esteja relacionada com a saída da equipa das Tercigirls. Continua a ser difícil, quase volvidos nove meses, não seguir caminho para a Rua do Rosário, não ir fazer compras à Tia Avelina e tomar café ao Avô Albino. Como se ainda não me tivesse desvinculado desse espaço construído por canecas de animais diferentes, por uma lata de rebuçados a servir de cofre, por músicas feitas à medida de acontecimentos diários, por almoços de partilha de conversas, de silêncios, de cenouras e queijo fresco.
Tolhe-me os sentidos não partilhar diariamente essa vida. E o sentimento de perda é acutilante e manifesta-se em olhos lacrimejantes, em silêncios perdidos e incontroláveis. O saldo desse percurso jamais o saberei contabilizar. Porque não sei contabilizar aquilo que gosto e quem se ama.
2006-08-10
Dafalgan
Sinto-me cansada de ter, sempre, dores de cabeça. É raro o dia em que não seja perturbada por uma leve ou uma intensa cefaleia. Sei já identificar os motivos: cansaço, falta de sono, sintomas das minhas amigas sinusite e rinite alérgica, reacções ao calor. E sei identificar os motivos através da zona onde esta se instala.
O mais comum é adormecer e acordar sem que a dor tenha passado. Lembro-me de ter dores de cabeça desde sempre. Mas estes últimos dias têm batido o meu recorde de tolerância. Caminhar, levantar-me, ir ao ginásio tornam-se tarefas dolorosas e insuportáveis. Sobrevivo a Dafalgan, que a amiga Mic`s me deu. Ontem, fiz questão de ir comprar uma caixa, só para mim! Sem me preocupar com a lista de contra - indicações e precauções. Desespero pela sua actuação rápida no SNC. Desespero pela acção analgésica.
2006-08-07
2006-08-03
Regresso à Padrela e ao Alvão.
2006-08-02
Rio Minho
Sábado de sol. Bacia hidrográfica do Rio Minho. Isto não é um passeio, dizia o Biólogo. Nem era uma aula, acrescento eu. A dinâmica parecia associar-se a algumas das minhas sessões com os Adultos. Sessões de Formação. Sessões de Educação e Formação de Adultos. O ponto de partida foi a bagagem de experiências que cada um de nós trazia. No barco de borracha um grupo de Adultos constituía-se como grupo de formação. Ou grupo familiar, se quisermos. No barco de borracha o Biólogo ia questionando sobre aquilo que sabíamos sobre o rio de Minho. Os mais velhos, fruto de um ensino primário com conteúdos diferentes dos actuais, iam respondendo ao “professor”. Com respostas mecânicas. Memorizadas numa rede de saberes que de imediato adquiriam, afinal, utilidade. Como se fizesse, agora sentido, saber onde nasce e desagua o rio.
Essa rede, a dos conteúdos escolarizados, memorizei e talvez os tenha esquecido com a força da não utilização. Mas, o sentimento da descoberta, da surpresa e da partilha não irei, certamente esquecer.
Não era de facto um passeio, nem era uma aula. Foi, talvez, uma sessão em que todos nos formamos. Restaria perceber qual o significado e a representação que cada um de nós elaborou desse dia.
2006-07-27
Peso da Régua - Barca D`Alva
A saída às 8h do Peso da Régua não faria adivinhar o sol que nos esperaria. A saída do Porto, uma hora e meia antes, também não faria determinar que nos esperaria um calor insuportável, doce e acolhedor até Barca D` Alva.
Sentei-me ao lado de pessoas que amo verdadeiramente e entrei naquela viagem. Conheço desde criança aquele percurso pelas loucas estradas municipais. Na altura valorizava-o muito pouco. Talvez porque era obrigada a parar vezes sem conta. O enjoo dominava todos os meus sentidos.
No fim – de - semana passado fui transportada para um Douro desconhecido, original e sereno. O barco foi caminhando levemente. Nas margens o terreno parece recortado, rendilhado por vinhas ou vinhedos. Alinhados. Certinhos. Como se com régua e esquadro tivessem sido desenhados.
Inevitavelmente apoderaram-se reminiscências da infância e de uma adultez quase inevitável e inesperada.
2006-07-25
Sítar
Provo, reclamo do picante e inicio uma nova marcha na escalada da tolerância. Desperto sentidos e bebo manga feita refresco.
Absorvo cada migalha de pão entre conversa feita carícia. Os sons são, na maioria, leves e a luz adquire aquela tonalidade da intimidade partilhada. Ontem, foi assim. Único.
2006-07-24
Mel do Sol
da paixão que escorre mel do sol
e incendeia o nosso coração
menino
brincando na areia
que a paixão saiba cuidar de nós
passageiros como a luz do sol
que incendeia o nosso coração
menino
brincando na areia
madrepérola de cores vãs
no vitral insone das manhãs
que eu vi passar enquanto o sol
menino
brincava na areia
Que o verão saiba cuidar de nós
que você beba do mel do sol
e que a sombra que o verão trará
possa descansar seu corpo
menino
brincando na areia
(Oswaldo Montenegro)
Impossível não te associar a sol e mar! Parebéns, menino doce!
2006-07-21
Pronto! Já quero ir de férias.
Férias de verdade. Quero sentir que posso ir mas que tenho, depois, papéis para conferir, Portfólios para analisar, propostas de projectos para entregar, livros para ler, danças para experimentar, jantares para organizar… mas agora, já quero ir.
Preciso sentir que o único projecto do dia é dar corpo a um ócio malandro, a um desejo lento de falar, à tentação de ler e interpretar todos os mapas possíveis. Quero conduzir pela esquerda. Quero não perceber uma palavra do que me dizem. Quero acomodar a mochila e partir para o que me é novo, para o que é verde. Desejo a dor de pés e a cabeça arejada pela diferença.
2006-07-20
Variações no passo cinco
Redijo sobre a minha primeira aula de tango Redijo sobre a dinâmica de envolvimento e concentração que exige acertar passos, segundos decisivos para criar um quadrado bonito. Com variações no passo cinco. Experimentei com satisfação o passo base, o passo do tango milongueiro cortado e outras variações de que não me recordo do nome. Apenas do esquema, do qual não me consigo desligar. Persegue-me nas caminhadas do dia –a – dia. Cola-se à memória de trabalho enquanto conduzo, enquanto preparo os cerais da manhã e enquanto caminho de compartimento em compartimento.
Desenho quadrados imaginários para expiar esta vontade de iniciar passos no ar.
2006-07-19
Portfólio de Sentidos
Nesta escrita espero encontrar não mais do que um espaço individual de reflexão. Partilhada também, por certo, por aqueles a quem quero muito bem.
Sobre nada. Sobre aquilo que me é importante. Sobre as construções e quebra de construções do quotidiano. Sobre o meu planeta.
Será por certo insignificante aos olhares distantes. Será, sobretudo, significativo como uma elaboração de instantes. Como um diário de bordo. Como um Portfólio. Um Portfólio de sentidos.