2006-10-13

Outras Verdades

Lembro-me de acreditar que o fim do mundo se situava na aldeia da minha avó. Fazíamos duas horas de viagem, entre curvas que serpenteavam o rio Tua, até chegarmos à povoação que não tinha saída. A estrada terminava ali. Lembro-me de ter isto como certo, como adquirido. Esta era a verdade. Impossível de refutar. Essa sensação, ingénua e infantil, transformou-se numa descoberta deliciosa: a de que havia outros caminhos, outras estradas sem saída, outros rios. E aquilo que foi uma decepção alarmante traduziu-se, mais tarde, numa nova concepção.
Actualmente, este confronto com novas concepções é, sempre, sentido como significativo. Por vezes, o grau de significância é acompanhado de uma sensação dolorosa de reajustamento, de quebra. Por vezes, é acompanhado de carícias intelectuais.
Uma verdade inconveniente, de Davis Guggennheim, volta a situar-me nesse fio subtil de confronto com uma dolorosa conjectura. Mas desta vez, não pressinto que dela advenha uma surpresa simpática. Gostaria de voltar a acreditar que o fim do mundo é só o final da estrada, o longínquo, a falta de telefone e muitas e maravilhosas oliveiras

3 Comentários:

Blogger Major Tom disse...

Noutros tempos o fim de um mundo era apenas o início de um outro. Agora que (quase) toda a inocência se perdeu, resta-nos pôr mãos-à-obra...

12:25 da manhã  
Blogger R.Gonk disse...

E se as mãos não bastarem para da obra fazer mundos novos sempre sobejam os olhos, capazes de ver, no mundo que temos, cores outras.

Planeta Ju
Tenho saudades de Tu!

6:45 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

o fim do mundo?!....O fim do mundo é o dia em que Melquíades levou o gelo a Macondo. Maldito gelo!

Quem me dera viver a história de Jacinto que perdeu Paris em Tormes para não mais querer a primeira.

Quem me dera retornar ao tempo em que o fim-do-mundo era a linha do horizonte.

Os sentidos confundem-me

11:38 da tarde  

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