2006-08-18

Quem Morre?



Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
Repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
quem não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os “is”
em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos
dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permita pelo menos uma vez na vida fugir de conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se
da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

(Procuro evitar esta morte suave! Partimos amanhã para a Irlanda. Na mochila levo livros e na boca músicas gravadas em suporte emocional.)

2 Comentários:

Blogger j.seabra disse...

Bendito adiar do apocalipse.
A escolha é, como sempre, mais do que acertada.
Umas boas férias, pois!
Beijos!

9:11 da tarde  
Blogger Pierrot disse...

Já conhecia o texto.
Foi um amigo que mo mostrou.
Recordo-me na altura de me ter emocionado.
É brutal minha cara...grande escolha e Pablo Neruda é muito forte.
Há um outro que também gosto. Postei-o no meu blog com o titulo de "Se..."
Eu diria mais.
Morre lentamente quem nunca morreu um dia pois que não morre, ainda que por um instante, também jamais sabe erguer-se...
Bjos
Eugénio Rodrigues

2:43 da tarde  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial