2006-10-21

Privilégios

Apodera-se, tão violentamente, de mim uma sensação horrível. Quem dera seja passageira e que se decore com dias mais auspiciosos e brilhantes. A sensação é dura e faço questão de a embrulhar nas necessidades do quotidiano. Sinto, a cada dia que passa, que o trabalho que realizo, que defendi com uma vaidade singela, se oriente no sentido de não ser credível, de não ser entendido como necessário e rigoroso. Aquilo que é/foi uma metodologia arrojada, inovadora, diferente no contexto europeu pode não passar de mais uma medida política fascinada com a demonstração de números. Com a demonstração de números pouco tradutores da realidade. Como uma maquilhagem bonita que disfarça o marasmo, a fraqueza, a realidade. Sinto que me vendo, que me vendo ao fazer pequenas cedências, ao flexibilizar o meu comportamento profissional perante as indicações soberanas das chefias. Mas essa é a condição necessária para a minha própria sobrevivência. A condição para poder garantir o pagamento da renda, da luz, do gasóleo, … E é este confronto que me arruína. É a impotência. É a raiva feita desânimo e tristeza. E é a consciência das fracas alternativas e é, sobretudo, a sensação de, no panorama geral, ser uma privilegiada.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Como te compreendo...e ainda por cima somos privilegiadas!!!

7:25 da tarde  

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