2006-10-01

Sensações de domingo


Nos últimos silêncios de domingo elaboro balanços e balancetes da semana. Da minha desnorteada viagem semanal em vestir e despir papéis. Como se abrisse e fechasse gavetas. Em cada uma delas há indumentária suficiente para mesclar tons de discurso e aguarelas de sentimentos. Na maioria das vezes há meias horas entre personagens a interpretar. Para alinhavar e não descoser as narrativas. Para me livrar das tantas frases e palavras que se arrumam, que se colam. Para arejar. Para poder ficar de novo disponível.
Nos últimos silêncios de domingo velo um sono profundo e silencioso. Descubro o anoitecer, acendo velas, queimo incenso e arrasto demoradamente, em tom de despedida, as janelas. Ainda sinto o cheiro a cevada, ainda me ocorre pensar em sair.
Nestes últimos instantes receio o tempo passar. Reclamo da inevitabilidade, reclamo com a agenda que me faz sinais demorados, da impressora que dá indicações de iniciar uma longa jornada de impressões.
Atrevida, desligo tudo. E, permito-me arrumar, em lugar desconhecido, a invenção das sensações de domingo.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

tenho evitado sentir o mundo. tenho evitado sentir os domingos.
tenho evitado respirar.
neste silêncio fazes-me sempre falta e não sei como te dizer que espero em ânsia por um domingo partilhado. contigo.

11:08 da tarde  
Blogger Pierrot disse...

Curioso que sintas tanto num domingo.
E eu que pensava que um pijaminha azul, um sofá bem confortável e uma almofada estrategicamente instalada eram suficientes para fazer milagres num domingo destes, chuvoso, frio e adoentado, para não dizer ressacado.
Pensei que nestes casos um domingo se resumia à decrépita televisão que nós temos e nem a cabo lhe vale...
Mas o texto está lindo
Parabéns
Bjos daqui
Eugénio

6:24 da tarde  

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