2007-08-25

Sobressalto

Há detalhes perturbadores do silêncio que se instala: as mãos adormecidas em posição nenhuma e o olhar cansado das noites inquietas e demasiado quentes. O lençol cola-se como uma papa viscosa e aderente. A almofada regista os pensamentos demasiado dolorosos para serem ditos. São, por isso, omitidos num mutismo que afeiçoa os dias a cinzento e aplica retoques a um Agosto, vertiginosamente, invernoso.
Os sonhos contorcem-se com a alienação das manhãs e há a presença aterradora da noite. Longa. Quente. Sem sons. Confusa. Sobressaltada. Sobressaltada. Sobressaltada. Assaltada de todas as memórias. Demencial. Vazia de implicação de um sono profundo e sereno.
Os dias cosem-se, em seguida, com as malhas da noite e com a rotina. Como um espartilho. Como um espartilho afiado e cortante.
Dos dias quedam-se as desconexões e o boato de uma noite maior. Permanece a sedimentação branca das imagens, das fotografias, dos desejos, dos afectos, dos silêncios conhecidos e amados. Ocorre a decantação vagarosa dos sentidos. De sentir. Deste sentir comprometido nos rostos e nas expressões. Quentes. Longas. Sem sons.
Na decantação confusa dos sentidos, sobressalto-me.

2 Comentários:

Blogger Fabi disse...

Lindo texto!!! Tudo bem ctg?? Séculos que não te vejo! :)
beijinho pros dois!

10:15 da manhã  
Blogger Venus as a boy disse...

Doloroso, muito doloroso.

7:37 da tarde  

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