Categorias de sentido
Para entrevista estão duas pessoas sentadas. Ela com avental e socas de trabalho, ele de olhar taciturno e profundamente calado. Levantam-se os dois quando digo apenas o nome dele. Acompanham-me ambos e sentam-se humildemente na sala iluminada. Do primeiro olhar inibi-me de solicitar à senhora que saísse, como faço habitualmente quando preciso de falar unicamente com o candidato. Abandonei a ideia quando me permiti ouvi-los.
Ela faz a vez de mãe. Ele a vez de homem. Possui dentes tão frágeis que parecem, ainda, de menino. As mãos parecem alienadas do seu corpo de rapaz. Têm rugas, fissuras, cor de trabalho, de terra e de cola de sapatos. Ele tem 18 anos e 10 de experiência profissional: na agricultura e, agora, na “Fábrica de vira”, diz. Vira é a designação da actividade que desempenha: virar dobras e dar cola nas gáspeas, taloeiras e nos canos. Tem recibo de vencimento e tem um horário de trabalho que todos recusam. A ele obriga-o a necessidade, a pobreza. Em casa estão mais 8 irmãos, todos mais pequenos. Em casa está um pai com idade de avô e uma mãe com idade de irmã mais velha. Tem, agora, telemóvel. Dá-me o número orgulhoso. Não tem certificado de habilitações, tem o 3º Ano incompleto do 1º Ciclo do ensino básico e os olhos desertos de aprendizagem pela possibilidade de experimentar um computador.
Há um silêncio profundo e constrangedor perante a folha branca. O olhar é, agora, de menino a reviver a história escolar fracassada e a aspereza da vida. Segura com segurança a caneta como se fosse esta que lhe permitisse rescrever a história e decora-la com figuras de estilo desconhecidas.
Há dias em que a análise de conteúdo das horas me obriga a redimensionar as categorias de sentido.
Ela faz a vez de mãe. Ele a vez de homem. Possui dentes tão frágeis que parecem, ainda, de menino. As mãos parecem alienadas do seu corpo de rapaz. Têm rugas, fissuras, cor de trabalho, de terra e de cola de sapatos. Ele tem 18 anos e 10 de experiência profissional: na agricultura e, agora, na “Fábrica de vira”, diz. Vira é a designação da actividade que desempenha: virar dobras e dar cola nas gáspeas, taloeiras e nos canos. Tem recibo de vencimento e tem um horário de trabalho que todos recusam. A ele obriga-o a necessidade, a pobreza. Em casa estão mais 8 irmãos, todos mais pequenos. Em casa está um pai com idade de avô e uma mãe com idade de irmã mais velha. Tem, agora, telemóvel. Dá-me o número orgulhoso. Não tem certificado de habilitações, tem o 3º Ano incompleto do 1º Ciclo do ensino básico e os olhos desertos de aprendizagem pela possibilidade de experimentar um computador.
Há um silêncio profundo e constrangedor perante a folha branca. O olhar é, agora, de menino a reviver a história escolar fracassada e a aspereza da vida. Segura com segurança a caneta como se fosse esta que lhe permitisse rescrever a história e decora-la com figuras de estilo desconhecidas.
Há dias em que a análise de conteúdo das horas me obriga a redimensionar as categorias de sentido.
3 Comentários:
Encantas-me com a tua escrita...
E era uma vez um menino transformado em Homenzinho...
Lamento não ser um caso isolado... e só tu para o colocares no "papel" de uma forma tão pura e simples.
Muitos beijinhos
Mónica Senra
Lindo!
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