2007-07-11

Com a máscara...

Estranhamente, a profundidade não me assusta. No fundo do mar azul da “D. Ana”encontro algas, sargaço e plantas que parecem flores, que ondulam em silêncio e com suavidade. Vejo chocos, douradas e outros peixes que não lhes sei o nome: são claros com pequenos giros dourados, compridos com riscos castanhos e outros muito miúdos que, ao meu olhar de leiga, se assemelham a sardinhas. Movem-se organizados em grupo: compacto, unido, denso. Quando me aproximo, quando nos aproximamos, afastam-se e voltam a reunir-se, mantendo a mesma disposição, quase que milimétrica. É um movimento acelerado, apressado e intempestivo. Num fundo desconhecido encontro-me com plantas que parecem flores, com algas e com sargaço. Muito sargaço que se enrola em algumas partes do meu corpo e que espanta os meus movimentos acelerados, apressados e intempestivos.
A cadência das braçadas é aquela que é determinada pela música lenta do fundo do mar. Um fundo que parece fugir, que se ornamenta com estrelas-do-mar e que arrola rochas limadas pelo tempo e pela erosão das ondas. Olho o mais atentamente que consigo. Procuro esquecer as correntes frias que me arrepiam e a água que, dissimuladamente, vai entrando na máscara. Pretendo avançar em direcção a outras rochas e a outros escaninhos na expectativa de um polvo, um peixe colorido ou alguma lula.
Ouço a minha respiração como som principal: cadenciada e suave. Lenta. Vagarosa. Preguiçosa, até. Como se o acto de respirar fosse minimizado ao essencial. A quantidade de oxigénio exigido pelos pulmões e pelo cérebro parece ser ínfima. É a necessária para que o coração se emocione e para que possa colar na retina uma representação do que sinto.
Avanço segura, de mão dada, com as barbatanas azuis a penetrar as ondas ensonadas e a ensopar-me de imagens profundas, insinuantes, penetrantes. Estranhamente, não me assusto com a profundidade.

4 Comentários:

Blogger Major Tom disse...

não te deixes seduzir pelo canto das sereias, queremos-te de volta!

9:15 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Este teu texto fez-me lembrar a praia do "César", onde aprendi, há 50 e tal anos, a dar as minhas primeiras braçadas, aceleradas e desajeitadas, com a ajuda do tio Rogério, sempre paciente, encorajador e calmo...
Uma praia de água límpida e calma que se via o fundo do mar até ao mais ínfimo pormenor. Nunca, até hoje, vi semelhante...
Espero um dia poder rever essa praia maravilhosa. De mãos dadas, quero rever e mostrar-te cada recanto onde estive e passei parte da minha infância... e, claro, dar umas braçadas, agora com mais segurança...
Um beijinho
Zoquita

9:11 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Descreveste a experiência mais próxima daquilo que eu imagino ser o som da Lua...

12:48 da manhã  
Blogger Joaquim Amândio Santos disse...

como se esfumou a fragilidade aparente desse papel.

no preciso momento em que foi dotado da musculada vontade das palavras!

2:50 da tarde  

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